“Ao contrário do que pensam os criminosos, não existe crime perfeito. O criminoso vai embora, mas as provas ficam. Elas são testemunhas silenciosas da barbárie. Os corpos falam e a cena do crime também.”
Começo esse artigo parafraseando as palavras de uma repórter – da qual infelizmente não me recordo o nome, do programa “A Liga” exibido pelo canal de televisão Band no ano de 2016 com o tema Homicídios. E traduz exatamente o que será abordado por aqui. Como a análise comportamental está presente na cena do crime.
Antes de tudo, é preciso compreender o conceito de criminal profiling.
Criminal Profiling ou perfilamento criminal como é conhecido no Brasil ou psicologia investigativa, é uma metodologia investigativa da Criminologia Aplicada que envolve o estudo do comportamento e da personalidade do autor do crime com o objetivo de traçar o perfil criminal desse indivíduo. O criminal profiling constrói o percurso de vida do indivíduo criminoso e todos os processos psicológicos que o possam ter conduzido à criminalidade.
O perfilamento criminal é um tipo de análise comportamental, que pode auxiliar nas investigações de um crime e até mesmo durante um julgamento. O criminal profiling também contribui na prevenção de crimes, nas entrevistas e interrogatórios, em estabelecer um perfil vitimológico e pode redirecionar toda uma investigação.
Embora o criminal profiling seja uma técnica relativamente recente, existem diversas vertentes para sua aplicação, que podem ou não serem utilizadas juntas.
Baseadas em pesquisas, as abordagens metodológicas são: a abordagem ideográfica e a abordagem nomotética. Os métodos nomotéticos são mais populares porque ensinam os investigadores de polícia que não possuem formação em psicologia ou criminologia os seus fundamentos básicos, e por isso são financeiramente mais viáveis, já que não é necessário contratar um especialista ou perito para se dedicarem a cada caso individualmente. Já os métodos ideográficos são mais custosos, em termos de dinheiro e de tempo. Isso porque não produzem resultados imediatos e centra a sua atenção em um caso apenas, procurando não extrapolar informações sem poder confirmá-las empiricamente através de provas concretas.
É importante apontar que o criminal profiling considera a realidade e cultura de cada país, por isso, em locais onde é mais desenvolvido, a técnica aplicada acaba se diferenciando de outras localidades.
Normalmente essas vertentes são separadas, porque elas apresentam partes que se destoam totalmente. Cada vertente vai focar em uma área.
A primeira abordagem é a mais famosa e foi desenvolvida nos Estados Unidos. É conhecida como Método do FBI. Chama-se Análise da Investigação Criminal ou Análise da Cena do Crime. O FBI desenvolveu o método de profiling psicológico mais conhecido e utilizado em criminologia: a tipologia organizada e desorganizada para descrever o agressor e a cena do crime. Esse método é retratado nas séries Criminal Minds e Mindhunter, ambas conhecidas e já maratonadas por muitos de nós. É uma abordagem essencialmente nomotética porque se baseia em conhecimentos adquiridos através do estudo de grupos.
A origem da tipologia organizado/desorganizado do FBI remota a um estudo realizado com um grupo de 36 agressores e suas vítimas. Dentre esses agressores entrevistados estão Jonh Wayne Gacy, conhecido como o Palhaço Assassino e Edmund Kemper, o Gigante, famosos assassinos em série. O objetivo desse estudo foi identificar características presentes nos agressores, a partir da análise dos seus crimes.
Os agressores do tipo organizado (psicopático), tem um QI de médio a alto; são socialmente bem vistos, ou seja, muitas vezes são casados e têm famílias; profissionais qualificados; sexualmente ativos; estão entre os primeiros filhos; a vítima desse agressor tende a ser um estranho; procuram vítimas longe da sua área de residência; se vestem de forma atrativa, moderna e sofisticada. Exemplo de um agressor organizado é o Ted Bundy. Um local de crime organizado demonstra planejamento por parte do agressor.
Já os agressores do tipo desorganizado (psicóticos), tem um QI baixo; a vítima ou o local do crime são conhecidos pelo agressor; são pessoas solitárias; não tem uma vida social ativa; os crimes tendem a ocorrer nas zonas de conforto do agressor, ou seja, perto da sua casa, casa de familiares ou perto do trabalho; são os filhos mais novos. O Maníaco do Parque é um exemplo de agressor desorganizado, assim como o Charles Manson. Um local de crime desorganizado demonstra espontaneidade do agressor.
A segunda abordagem chamada de Avaliação Diagnóstica não se refere a uma técnica de profiling nem a uma abordagem específica do profiling. A avaliação diagnóstica refere-se às perícias elaboradas por psiquiatras e psicólogos forenses. Esse tipo de informação pode ser acerca do agressor, da cena do crime ou da vítima. Para essa abordagem, é importante a perspectiva clínica de psiquiatras e psicólogos forenses, sobretudo nos casos que envolvem seriais killers. A formação em ciências comportamentais e em psicopatologia permitem que estes especialistas forenses deduzam mais facilmente as características da personalidade do agressor a partir da interpretação da cena do crime, sobretudo quando o agressor tem uma assinatura. É um método nomotético.
A terceira abordagem surgiu na Inglaterra. A chamada Psicologia Investigativa é uma abordagem ao profiling que se baseia fortemente na investigação. É um método nomotético, indutivo e dependente sobretudo da quantidade e da precisão das informações resultantes da investigação criminal. De acordo com David Canter, diretor do International Centre For Investigative Psychology, o profiling é apenas uma parte do processo de investigação.
Profiling Geográfico ou Geoprofiling é a quarta abordagem metodológica. Pretende prever o comportamento espacial do agressor a partir das localidades onde ocorre o crime, e da relação espacial entre diferentes cenas de crimes. Traz que é possível deduzir sobre a área de residência, de trabalho ou de lazer do agressor em função das localizações dos seus crimes. Para ter eficácia essa abordagem é combinada com outras metodologias. O principal intento deste tipo de profiling é mostrar que o crime não ocorre de forma aleatória e que existem padrões espaciais que refletem a personalidade e a vida do agressor. Trata-se de uma abordagem nomotética.
A quinta e última abordagem metodológica é a Análise das provas Comportamentais. É uma abordagem dedutiva que pode levar à compreensão das particularidades das características, dinâmicas e relações entre um determinado crime, a vítima e o agressor. É um método ideográfico. Podemos dizer que um perfil criminal ideográfico é um conjunto de características únicas e específicas resultantes de um único caso. A APC (como é conhecida a análise das provas comportamentais) não deve ser entendida como um processo depois de um resultado fixo, mas como um processo em andamento, contínuo, dinâmico, crítico, analítico que examina o comportamento criminoso e como ele se transforma ao longo do tempo.
Os vestígios comportamentais são todos os vestígios ou pistas físicas, documentos e testemunhas que permitem estabelecer se ocorreu um crime e no caso de se confirmar a sua ocorrência, permitem determinar quando e como este ocorreu. Os vestígios físicos podem sem pegadas, manchas de sangue, digitais e sémen, por exemplos. Exames toxicológicos podem indicar a presença de drogas, álcool ou toxinas no sangue do agressor. Fotos ou vídeos de câmeras de segurança, de celular, por exemplo, também são importantes fontes de informação.
O estudo e análise das abordagens metodológicas do criminal profiling são extensas, portanto, procurou-se tratar nesse breve artigo as suas principais finalidades e contribuições no contexto investigativo.
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Fonte
MERLI, Karina. “Criminal Minds” e a utilização do criminal profiling. Jornalismo Júnior, 2019. Disponível em: < http://jornalismojunior.com.br/criminal-minds-e-a-utilizacao-do-criminal-profiling/>. Acesso em 05/01/21.
SIMAS, Tânia Konvalina. Profiling Criminal: introdução à análise comportamental no contexto investigativo. 2ª. ed. Ribeirão Preto: Rei dos Livros, 2014.